Tecnologia: cadê as mulheres?
Na edição 2022 do Programa Jovem Programador apenas 23% dos inscritos eram mulheres
Na história dos computadores, iremos encontrar milhares de linguagens de programação de computadores que foram inventadas.
Muitas linguagens apareceram e sumiram.
Há linguagens que são mais específicas e utilizadas em nichos, mais comerciais, mais científicas, mais fáceis de programar, mais difíceis que oferecem mais recursos, mais rápidas, mais lentas, compiladas, interpretadas, para processadores específicos; enfim, há para todos os gostos.
Algumas linguagens muito antigas resistiram ao tempo, embora muito modificadas.
Encontra-se nomes de linguagens como COBOL, PASCAL, C SHARP, JAVA, DELPHI, FORTRAN, SNOBOL, C99, ANSIC, MODULA2 e PYTHON.
Mas por que razão existe uma linguagem no meio delas com o nome de uma mulher, ADA?
O nome da linguagem de programação ADA é uma homenagem à primeira pessoa a programar um computador no mundo: Augusta “Ada” Byron King, uma mulher.
Nos anos 40, Kathleen McNulty Mauchly Antonelli, Jean Jennings Bartik, Frances Snyder Holberton, Marlyn Wescoff Meltzer, Frances Bilas Spence e Ruth Lichterman Teitelbaum foram pioneiras em várias frentes da computação e atuaram como programadoras do ENIAC, o primeiro computador do mundo.
Mas por que a realidade hoje é diferente? Por que temos poucas mulheres na área de tecnologia?
Luiza Guerreiro, ao abordar o assunto em seu texto intitulado “Diversidade e mulheres na tecnologia” (1) afirma que, com base num relatório da ACATE, a participação das mulheres vem caindo no mercado catarinense.
De 2015 para 2019 a participação das mulheres no mercado de tecnologia caiu 2,5%.
DIVERSIDADE
O Programa Jovem Programador foi criado especialmente para as empresas de tecnologia de todo o Estado De Santa Catarina.
É uma iniciativa do Sindicato das Empresas de Processamento de Dados, Software e Serviços Técnicos de Informática do Estado de Santa Catarina (SEPROSC) em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC/SC).
O objetivo do programa é capacitar, rapidamente, jovens para ingressarem na área de tecnologia, na profissão de programadores de computador.
Embora esse programa tenha sido desenhado para as empresas, pensando em qualidade, em formação adequada, em uma entrega de bons profissionais para o mercado, ele é um programa que tem um cunho social importante.
O Programa é gratuito para jovens que se encontrem em famílias de baixa renda.
Apenas para reforçar, essa gratuidade não se traduz em baixa qualidade do curso, mas sim em oportunidade para mais jovens iniciarem uma carreira na área de tecnologia e um aumento na oferta de profissionais para as organizações.
Características do programa, para mostrar que não existe nenhum motivo para que a participação das mulheres tenha sido menor:
- O programa é gratuito;
- Destina-se a jovens entre 16 e 35 anos de idade;
- Não tem quaisquer restrições quanto a participação de mulheres, muito pelo contrário, elas são bem-vindas e já demonstraram que nessa área de tecnologia se igualam aos homens e podem até superá-los;
- O SENAC é conhecido pela qualidade dos cursos que promove. Empresários que contrataram jovens da primeira edição do programa se pronunciaram afirmando que os jovens chegaram muito bem-preparados nas empresas, homens e mulheres;
- As empresas de tecnologia, mormente aquelas que se dedicam ao desenvolvimento de softwares, estão ávidas por profissionais para a área de programação de computadores e a grande maioria não consegue preencher as vagas. Posso afirmar que desconheço restrições quanto à contração de mulheres.
Sem entrar em qualquer polêmica quanto ao assunto, nos diversos textos que leio, abordando diversidade nas organizações, observo que os autores culpam, principalmente as empresas e é, sobre elas, que recai o ônus sobre a falta de “diversidade”, principalmente nos quadros de direção.
Quando o assunto são homens e mulheres, há que se pensar a respeito e os números de inscritos no Programa Jovem Programador podem nos trazer alguma luz.
Talvez se deva olhar também para o outro polo: conscientização das mulheres. Deve ser delas a iniciativa, pois, na área de tecnologia, o mercado está aberto e carente.
Programação de computadores é uma profissão promissora; é uma das poucas profissões em que a maioria dos especialistas de recursos humanos afiram que perdurará por longos anos.
O Teletrabalho é possível, diferente de algumas profissões em que a presença sempre se faz necessária. É uma atividade de cérebro intensivo e como afirma Marafon, os profissionais dessa área são “cabeças de obra”(2).
Se pode afirmar que nesse quesito, de utilização intensiva do cérebro, não há diferenças entre os seres humanos, ou as que existem, são generalizadas e não podem ser atribuídas a nenhuma categoria específica.
Categorias podem ser criadas à vontade e são ilimitadas e atualmente há uma profusão de categorias e muita polêmica sobre elas.
Ao final, o ser humano, o indivíduo em si, que interessa, fica esquecido; ele é “rotulado” e ao invés de melhorar a questão, isso só piora, na minha opinião, para os objetivos a que se propõem.
Em uma empresa, que é um evento social, não existe maior diversidade do que a de conhecimentos e de experiências, independentemente de quaisquer atributos ou rótulos que se possa atribuir aos indivíduos e em que categorias se enquadrem.
O que empresários procuram são bons profissionais, comprometidos, que desempenhem seus papéis, para que tenham colaboradores satisfeitos, clientes satisfeitos e dinheiro em caixa.
No programa TECHSC, apresentado por Rúbia Laidens, ver link para o vídeo (3), há depoimentos de jovens, homens e mulheres, que já estão trabalhando em empresas de tecnologia, egressos da primeira edição do Programa Jovem Programador.
Esperamos mais mulheres na terceira edição do Programa Jovem Programador de 2023.
(1) GUERREIRO, Luiza. Diversidade e mulheres na tecnologia; In: LEIPNITZ, Daniel; LÓSSIO, Rodrigo. Ponte para a inovação: como criar um ecossistema empreendedor. Florianópolis: Santa, 2021, p. 313-317.
(2) Moacir Marafon, empresário da área de tecnologia de Santa Catarina, afirma que ao invés de se falar em “mão-de-obra”, se deveria falar em “cabeça de obra”, para os profissionais da área de tecnologia. MARAFON, Moacir. A importância da formação e da atração de talentos para o ecossistema de empreendedorismo e inovação; In: LEIPNITZ, Daniel; LÓSSIO, Rodrigo. Ponte para a inovação: como criar um ecossistema empreendedor. Florianópolis: Santa, 2021, p. 97.
(3) Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/10490368/>. Acesso em: jun. 2022. Programa TECHSC apresentado por Rúbia Laidens.
Artigo publicado no Noticenter em 21/06/2022 - <https://www.noticenter.com.br/n.php?ID=30632&T=tecnologia-cade-as-mulheres>