A IA generativa vai mudar a maneira como vivemos e trabalhamos?
Publicado em 21/03/2023

A IA generativa vai mudar a maneira como vivemos e trabalhamos?

Sempre que especulamos sobre o futuro, devemos considerar a afirmação de Luhmann: o futuro não pode ser conhecido, caso contrário não seria futuro. O resultado parece ser que o futuro só pode ser percebido probabilisticamente, ou seja, só pode ser percebido em suas características como mais ou menos provável ou mais ou menos improvável. Para o presente significa que ninguém pode afirmar que sabe o futuro ou que tenha a possibilidade de determiná-lo.[1]

A Inteligência Artificial Generativa (IAG), utilizada como meio para formas, nesse caso plataformas como o ChatGPT, bem como para novas funcionalidades presentes no Bing e no navegador Edge da Microsoft, em breve turbinará muitos outros sistemas ao redor do mundo, e dadas suas características, há uma grande probabilidade de mudar a maneira como vivemos e trabalhamos. Embora alguns especialistas entendam que se trate apenas de uma bolha, estamos diante de uma mudança tecnológica muito significativa. Não é exagero afirmar que todos os indivíduos serão afetados diretamente ou indiretamente pela IAG. Pode-se então especular o que irá ocorrer com a sociedade, sem que se possa realmente determinar.

A IA generativa [IAG] é um tipo de inteligência artificial que utiliza algoritmos para produzir, manipular ou sintetizar dados, muitas vezes sob a forma de imagens ou texto legível por humanos. Ela é chamada de generativa porque a IA cria algo que não existia anteriormente.[2]

O ChatGPT assombrou o mundo com o diálogo e com suas respostas, o que demonstra o poder dos novos algoritmos de IA no tratamento de textos.[3] Mas esses novos algoritmos estão sendo utilizados também para geração de imagens e códigos de programas de computadores.

Por exemplo, eu utilizei o Midjourney[4] para gerar a imagem deste post. Solicitei uma imagem de um Robô auxiliando um ser humano.

A forma como a IAG está se disseminando entre as gigantes da tecnologia e o aporte de recursos que está ocorrendo nessa área, mostra que se está diante de algo muito diferenciado.

Para se ter uma ideia dos investimentos realizados, somente a Microsoft aportou 10 bilhões de dólares na empresa OpenAI desenvolvedora do ChatGPT e pretende abocanhar parte dos lucros dessa organização nos próximos anos para recuperar esse investimento bilionário.[5]

IAGs são capazes de gerar textos que se parecem com o discurso humano.

Jeff Maggioncalda, CEO da empresa de educação Coursera Inc., afirma que utiliza uma IAG para redigir notas e cartas da empresa e que passa mais tempo pensando e menos tempo escrevendo.[6]

O que ocorria, até agora, com as rotinas de Inteligência Artificial é que elas estavam embutidas nos programas e não eram visíveis ou palpáveis para os usuários. Agora a IAG está à disposição do usuário para ser utilizada para solução de problemas do dia a dia.

“In the future, I feel like AI will be our third brain,” Ms. Ting said. “We have our left brain and right brain; sometimes we make decisions by logic, sometimes with emotion. Now we’ll have an AI brain to provide us information and data analysis. It will help us to make better decisions.” [“No futuro, sinto que a IA será nosso terceiro cérebro”, disse Ting. “Temos o cérebro esquerdo e o cérebro direito; às vezes tomamos decisões pela lógica, às vezes com emoção. Agora teremos um cérebro de IA para nos fornecer informações e análise de dados. Isso nos ajudará a tomar melhores decisões.”][7]

As IAGs se baseiam em uma tecnologia de aprendizado de máquina que utiliza redes neurais artificiais denominada de Generative Pre-trained Transformer (GPT). O treinamento se dá por meio de bilhões de palavras da internet e outras fontes.

Alguns críticos têm razão quando levantam questões éticas, morais, legais e de direitos autorais a respeito desses novos algoritmos, uma vez que eles se utilizam de dados disponíveis no mundo virtual.

Mas o trem já saiu da estação e durante a viagem, à medida que os problemas aparecem, as próprias empresas que se utilizam desses algoritmos em larga escala farão os ajustes necessários. Aos poucos, também, todos os sistemas funcionais da sociedade como o político, o econômico, o educativo e o jurídico se adaptarão e influências reversas criarão um equilíbrio de forças que faz da sociedade o que ela é.

A IAG se baseia em aprendizado não supervisionado. Consegue gerar textos semelhantes aos que humanos fariam. O modelo GPT, além de textos, pode gerar imagens e outros tipos de dados.[8]

Por que esses novos algoritmos têm um enorme potencial para mudar a vida das pessoas?

Comunicação: em uma sociedade complexa, que tem como base a comunicação, “conversar” com as máquinas e extrair delas informações, textos resumidos, úteis, que se transformam em conhecimento, seletiva e rapidamente, é algo que nunca foi experimentado antes. E isso não é qualquer coisa. Certamente, os indivíduos que resvalam para esse mundo tecnológico terão uma visão da realidade muito diferenciada, nunca experimentada, e criarão variações inéditas de relacionamentos e maneiras de viver.

Educação: talvez na educação tenhamos o melhor exemplo da mudança que se avizinha. A vida de alunos e professores não será mesma. A IAG pode gerar textos educacionais personalizados e adaptativos, que podem ajudar os estudantes a aprender melhor e mais rápido. Sem falar na possibilidade de criar exercícios, avaliações e feedbacks automáticos, que podem auxiliar os professores em suas tarefas pedagógicas. Agora que os novos algoritmos colocam as referências e resumem um assunto de forma brilhante, os alunos dispõem de ferramental para seus estudos que se quer foi imaginado em décadas passadas.

Entretenimento: todos, mas principalmente as crianças, poderão fazer experimentos com a criação de conteúdos inéditos e divertidos, como histórias, poemas, músicas, jogos e memes. Os algoritmos podem também ser usados para gerar roteiros, legendas e dublagens para filmes e séries. A Netflix, por exemplo, utilizou a IAG para criar as imagens de fundo em um curta-metragem de anime postado no YouTube, como parte de um experimento dessas novas tecnologias.[9]

Trabalho: as IAs “tradicionais” são utilizadas para automatizar tarefas repetitivas, mas isso está mudando com a IAG.  A IAG permite ultrapassar fronteiras antes proibidas, explorar territórios inóspitos para as máquinas, tais como realizar tarefas mais complexas que envolvem escrita ou análise de dados e gerar relatórios, resumos, apresentações profissionais e criar imagens.

As máquinas têm à disposição um mundo novo e inexplorado por elas. Elas devem estar deslumbradas com essas possibilidades e muito mais aqueles que se surpreendem com suas novas capacidades.

 


[1] LUHMANN, Niklas. Sociología del riesgo. Guadalajara, Jalisco: Universidad Iberoamericana; Universidad Guadalajara, p. 49.

[2] Este texto foi gerado por uma IAG, no Bing da Microsoft.

[3] PEREIRA, Carlos José. Como alguém pode saber e não saber que sabe? Disponível em: <https://www.oanalistadeblumenau.com.br/blog/30/como-algu-m-pode-saber-e-n-o-saber-que-sabe>. Acesso em: mar. 2023.

[4] Disponível em:<https://www.midjourney.com/home/?callbackUrl=%2Fapp%2F>. Acesso em mar. 2023.

[5] MORRISON, Sara. What Microsoft gets from betting billions on the maker of ChatGPT. Disponível em:< https://www.vox.com/recode/2023/1/23/23567991/microsoft-open-ai-investment-chatgpt   >. Acesso em:  mar. 2023.

[6] HAO, Karen.; CUTTER, Chip.; MORENNE, Benoít. From CEOs to Coders, Employees Experiment With New AI Programs. Disponível em: < https://www.wsj.com/articles/from-ceos-to-coders-employees-experiment-with-new-ai-programs-32e1768a?mod=hp_lead_pos13 >.  Acesso em: fev. 2023.

[7] Ibidem.

[8] ChatGPT 101: What Is Generative AI (and How to Use It). Disponível em: <https://www.coursera.org/articles/chatgpt>. Acesso em mar. 2023.

[9] HAO, Karen.; CUTTER, Chip.; MORENNE, Benoít. From CEOs to Coders, Employees Experiment With New AI Programs.

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